Cotidiano Serelepe

Surpresas e sustinhos da minha vidinha sem-sal

terça-feira, janeiro 13, 2009

Parte II

Se vocês têm acompanhado os textos dos últimos meses devem ter percebido que a realidade de estar grávida não provocou uma felicidade instantânea em mim. Por causa disso os messes que se seguiram não foram exatamente felizes. Houve muita lágrima minha, de minha mãe, da família, da Igreja... Muito apoio também, graças a Deus, mas sabe aquela sensação de sempre dever um pedido gigante de desculpas pra todo mundo? Tenho isso até hoje e acho que vou ter pra sempre.

JUN- A barriga ainda não existia, mas eu já estava mais cheinha e, claro, punha a culpa no frio de Brasília que me 'obrigava' a comer a comida maravilhosa da Roseli. Passei meu mês de férias sendo paparicada pela família, os amigos, a Igreja, mas estava uma pilha de nervos. Na verdade, estava soltando os cachorros em todo mundo havia muito tempo. Fiz os primeiros exames escondida com o apoio de Matheus, que também foi pra casa dele, no Norte do país.

JUL- No dia 5, data marcada para o meu retorno a Brasília, contei a mainha que estava grávida e o mundo de todo mundo veio abaixo. Liguei pra coordenação do curso e falei que não voltaria e o motivo. Naquele mês e no próximo seria o Módulo de Campo. Todos foram para a tribo Parakanã, no Pará e eu iria também, mas ninguém deixou. Foi um mês dificil e os olhos da minha mãe choraram muitos e muitos dias.

AGO- Eu quase deprimi, mas não ia adiantar nada ficar com cara de 'Ih, fiz merda!', então só chorava quando não tinha ninguém por perto. Percebi que tenho alguns amigos muito bons e, finalmente, me livrei de um tipo 'muui amigo' que me irritava havia quatro anos - beijo na testa de quem adivinhar de quem eu tô falando! haha

SET- Nos mudamos numa sexta-feira e na terça fomos buscar Matheus na rodoviária. Foi um dia stressante pra todo mundo. Não sei dizer direito o que eu estava sentindo aquele dia, mas essa dúvida, certamente, me deixou muito agoniada e nervosa. Sei que não o recebi bem, mas minha reação foi o acúmulo de vários dias de notícias enviezadas, dúbias... Era a incerteza dos próximos dias, na verdade meses, que já vinha se manifestando e que ele só teria contato a partir dali.

OUT- Vale dizer que nesse tempo todo a situação financeira aqui de casa ficou pior do que sempre. Um doslugares onde mainha trabalhava fechou as portas e, sem eu saber, ela havia tomado vários empréstimos pra me manter em Brasília, além disso depois da mudança passamos a morar de aluguel. Num apartamento maior o gasto com energia elétrica- por exemplo- também é maior. E eu sem poder trabalhar, ficava cada vez mais nervosa e inchaaaaaaaaaaaaaada. Mas Deus é bom e uma amiga da gente me deu de presente sessões de drenagem linfática que revolucionaram a minha vida! Teve o culto do dia das crianças e minha suspensão das atividades da igreja acabou.

NOV- Praticamente um elefante, só saia de casa pra ir à médica. Aconteceu o Chá de Bebê no finalzinho do mês e fomos duas vezes à maternidade com alarmes falsos.

DEZ- João nasceu no dia 2, à noite, mas as dores começaram às 10 da manhã. É uma dor que você vai na Lua, bate papo com São Jorge e volta- bem devagarzinho!- mas, depois que o menino sai, passa instantaneamente. No dia seguinte à nosso retorno pra casa, a irmã de Matheus veio passar uma semana conosco. A vinda dela foi uma coisa realmente providenciada por Deus porque ela ajudou a clarificar algumas coisas. O Natal chegou e João foi nossa única alegria. O Reveillon passamos com minhas tias e foi ótimos, pois com essa história de Igreja, havia anos não passávamos com a família. 1h da manhã do dia primeiro, voltamos pra casa e fomos dormir.

Acabou.

sábado, janeiro 03, 2009

2008 Retro - Parte I

Já que este foi um ano pra lá de decisivo na minha vidinha, vou contar o básico para você, querida Pessoa que lê o CS, entender porquê agora ela vai ficar mais salgadinha.

JAN- Fui para Brasília fazer um curso de Línguística Aplicada com o firme intento de conseguir, um dia, grafar uma língua indígena. Lá eu conheci uma monte de gente que pegou no meu pé pelos motivos mais insanos e também conheci um cara que, apesar de também pegar no meu pé vez ou outra, falava menos que a maioria: Matheus. Depois de alguma conversa, começamos alguma coisa no dia 31.

FEV- Eu chorava todos os dias com saudade da minha mãe, da minha casa, da terrinha, dos meus amigos, do mar e, já que todo mundo achava isso muita frescura, eu preferi ter apenas colegas de curso e não amigos. Minha distração depois de passar o dia estudando era ver TV na salinha das crianças e quase sempre Matheus tava lá. Nessa época a gente ainda conversava sobre tudo e eu passei a ir lá mais para encontrá-lo que para ver TV e tempos depois ele confessou que também mudou o foco para com a salinha.

MAR- O curso era exatamente o que eu queria e estava me saindo bem. Nada era fácil, mas tudo só exigia dedicação. Houve o primeiro recesso e a chácara onde morávamos e estudávamos ficou quase vazia. Nessa altura do campeonato, a saudade era imensa e a carência saia pelos poros, daí já viu né?

ABR- O Dia do Índio foi maravilhoso! Consegui que a Nhgreidjam (Lê-se: Ingredjâm) fizesse uma pintura Kaiapó no meu rosto e fomos ao Museu do Índio, onde um evento do Governo reuniu várias etnias e o Hino Nacional foi cantado pelos parentes da Nhgrê. Foi muito massa, mas minha cabeça já estava rodando com a possibilidade de estar grávida.

MAI- Todos os enjôos do mundo confirmaram a gravidez no período das matérias mais difíceis: Fonologia, Gramática I, Semântica e Pragmática. Por muitos motivos, não dividimos a notícia com ninguém, mas eu resolvi não continuar com o relacionamento. Eu me sentia muito só e estar acompanhada, naquele momento, não estava fazendo a menor diferença, então resolvi ficar só de verdade.

JUN- O tão esperado mês de férias chegou e eu voltei para casa no dia 13, uma sexta -feira. Vomitei em mainha no carro, a caminho de casa. Eu estava feliz, mas uma pilha de nervos e fiquei assim durante todo o tempo enquanto tentava disfarçar as corridas ao banheiro para vomitar.