Sobre a mediocridade humana...

Este texto nasceu quando eu estava tomando banho hoje, depois do almoço. Adquiri este hábito aqui, já que prefiro ficar na cama mais meia hora a ter que levantar só para tomar banho. Adoro tomar banho e levo milhões de anos embaixo do chuveiro, principalmente se a água for quente, mas nem sempre foi assim. Lááá, nos idos anos de 1989; ano da queda do muro de Berlin e da eleição do Collor (sim, estou vendo Queridos Amigos! rsrs); eu achava um negócio meio sem lógica a gente tomar banho para se sujar outra vez e todas as guerras mundiais aconteciam na minha casa por causa disso.
Tomar banho essa hora é o único jeito, aqui, que eu posso ficar realmente sozinha com meus pensamentos e hoje eu pensei sobre o desenrolar das aulas da parte da manhã. Estamos agora estudando Antropologia da Religião e tivemos uma espécie de debate sobre o livro de Rubem Alves sobre o conceito. Ele vem catando as idéias de vários filósofos desde o iluminismo e levanta a temática até a pós-modernidade. Acredito que a idéia secreta inicial do professor foi mexer com os brios dos fundamentalistas e estremecer os de cabeça fraca, só pra saber direito quem era quem. Salvo excessões aqui e ali, conversamos saudavelmente sobre o livro durante a aula e o assunto se estendeu ao almoço.
E, no meio da conversa produtiva, lá vai o povo falar mal do que não sabe... "Pra mim só Jesus é que é o Cara! Nada desses outros faz efeito pra mim...'' e continuou falando, mas resolvi parar de ouvir. Poxa vida, só tem crente aqui! É ponto pacífico que Jesus é Senhor e tal. A discussão não é se o homem precisa ou não de Deus, mas como ele lida com essa necessidade, se é consciente ou não e, aprtir daí, como os conceitos dogmáticos sempre foram usados para subjulgar pessoas a outras pessoas. Mas aí a mentezinha tacanha apela para a solução medíocre do isolamento.
Só que eu não aguento isso. Não dá pra condenar Marx, Nietzche, Darwin ou quem quer que seja, só porque eles não conhecem o Jesus gracioso que eu conheço. Não dá pra jogar fora todas as boas idéias dos caras só porque eles discordam de mim em um ponto. Está na Bíblia também: 'Observai tudo e retei o que é bom'. Só porque eles são ateus só dizem coisas sem valor? Não. A capacidade de pensar é um dom divino, pelo qual eu agradeço muito todos os dias, e eu não posso ser tapada a ponto de dizer que os pensamentos desses homens brilhantes, ateus ou não, são inválidos. Eles quebraram as cucas, ficaram doidos ou se mataram para que as minhas idéias avancem sem que eu precise cometer seus erros. Isolar o esforço deles no limbo é falta de misericórdia. Deus é ótimo e ainda há muito de Dele no homem, só que ele não se dá conta de suas origens e passa a vida em busca delas, como órfãos quando se descobrem órfãos. Uns querem abraçar os pais biológicos, outros xingá-los e encharcá-los com toda culpa do mundo, mas, lá no fundo, todos querem saber de onde nasceram e disso ninguém discorda.
Para mim, as religiões são como essas agências de adoção de filme americano. Tudo organizadinho, com meias-respostas pra quem quiser perguntar. Eu concordo com Marx "A religião é o ópio da sociedade" e foi ótimo poder dizer isso no banheiro, sozinha, sem ninguém pra me atrapalhar. Sozinha, não porque eu estivesse com medo das represálias, mesmo porque já disse isso pra algumas pessoas hoje mesmo. Falei sozinha, porque também concordo com Schopenhauer quando ele diz que “A felicidade reside na ignorância” e eu quero ver todo mundo feliz.

Até eu, com minhas opiniões medíocres que não mudam a vida de ninguém.